sábado, 23 de novembro de 2013

ANÁLISE-Dilma se empenha para evitar um fiasco em 2014



BRASÍLIA, 22 Nov (Reuters) - Visto do modernista e envidraçado Palácio do Planalto, 2014 parece um campo minado.

A economia, já cambaleante, provavelmente vai desacelerar ainda mais. Um rebaixamento da classificação de crédito do Brasil parece possível, e até provável. A Copa do Mundo, que o Brasil vai sediar em junho e julho, pode acabar revelando a bilhões de telespectadores a má qualidade do planejamento do governo e os gargalos no transporte que há muitos anos frustram os investidores.

Para agravar ainda mais a situação, a presidente Dilma Rousseff disputará a reeleição em outubro --ou seja, se alguma dessas coisas derem terrivelmente errado, ela poderá perder o cargo.

Dilma está dedicando as últimas semanas de 2013 à tentativa de restaurar entre os líderes empresariais a destroçada credibilidade de seu governo e a manter os gastos orçamentários sob controle, e assim garantir que o ano que vem não se transforme no seu pior --ou último-- no cargo.

Nenhuma das medidas corresponde a uma mudança fundamental na política. Uma dúzia de autoridades do alto escalão entrevistadas pela Reuters na semana passada descreveram um governo que está preocupado com a deterioração da reputação do Brasil nos mercados financeiros, mas consideram que o pessimismo é exagerado e, portanto, não estão convencidas da necessidade de uma grande reformulação.

Em vez disso, Dilma está se concentrando mais em "pôr a casa em ordem", nas palavras de uma autoridade, antes de a campanha eleitoral de 2014 começar para valer e o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, passar a frear seu estímulo monetário, uma iniciativa que provavelmente vai provocar instabilidade em mercados emergentes, como o Brasil.

Nos últimos dias, a presidente: fechou um acordo para impedir que o Congresso aprove leis que impliquem em gastos; reverteu uma decisão que iria permitir a cidades e Estados gastar mais; e supervisionou pessoalmente um leilão de aeroportos para o setor privado, que ela espera vá ajudar a evitar o caos nas viagens durante a Copa do Mundo.

O retoque também se estendeu à própria Dilma: depois de visivelmente ganhar peso em seus quase três anos no cargo, a avó de 65 anos agora está de dieta.


Ela também usou o Twitter pela primeira vez desde que está na Presidência. Isso é parte de uma investida mais ampla na mídia social visando não só a eleição, mas dar a Dilma uma linha direta com os brasileiros, para o caso de se repetirem os massivos protestos de rua que abalaram o país em junho.
PONTUAL COMO NA IGREJA

Muitos investidores vêm debochando das recentes atitudes dela, dizendo que equivalem a uma nova embalagem superficial de um governo que interferiu demais na economia e destruiu boa parte da credibilidade que o Brasil acumulou na última década, quando era um dos mercados emergentes de crescimento mais rápido no mundo.

Mas as autoridades apontam para sua taxa de aprovação, em ascensão, um índice de desemprego que permanece próximo do recorde de baixa --e a abordagem de Dilma de colocar a mão na massa-- como sinais de que o ano que vem não será tão ruim como alguns pensam.

"Ela está fazendo a gente trabalhar, isso é verdade", disse o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que está ajudando a supervisionar os preparativos para a Copa do Mundo, incluindo novos estádios e reformas de aeroportos. "A mensagem é clara: 2014 é quando teremos de entregar resultados."

Diante da pergunta sobre se está preocupado com uma pane na logística na Copa do Mundo, para a qual se prevê 300 mil visitantes de todo o mundo, Aldo comparou a situação com a tentativa de organizar um casamento --no qual, inevitavelmente, disse ele, há algum tipo de percalço.

"Em todos em que já estive a noiva sempre aparece atrasada", disse Rebelo. "E mesmo assim o casamento seguiu adiante de todo o jeito, todas as vezes."

"Acho que vamos estar bem", acrescentou.



Essa confiança é típica de Brasília nos últimos anos, alarmando alguns investidores que temem que o governo ainda esteja celebrando as conquistas da década passada e não encarando a sério os problemas atuais.


Por Brian Winter e Cesar Bianconi

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